TRE-SP cassa mandato de Zambelli por desinformação eleitoral
TRE-SP decide pela cassação do mandato da deputada Zambelli devido a desinformação eleitoral; cabe recurso ao TSE.

Foto: Lula Marques/Agência Brasil
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) decidiu, em uma votação de 5 a 2, pela cassação do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) devido a desinformação eleitoral durante as eleições de 2022. Além da cassação, Zambelli foi declarada inelegível por oito anos, a contar do ano do pleito. A decisão, que ainda pode ser contestada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), levanta questões sobre a liberdade de expressão e o uso do poder político em campanhas eleitorais.
Contexto da Decisão do TRE-SP
A decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) de cassar o mandato da deputada federal Carla Zambelli foi resultado de um processo que investigou a disseminação de desinformação eleitoral durante a campanha de 2022. A ação foi movida pela deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que alegou que Zambelli utilizou sua posição para propagar informações falsas sobre o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.
O julgamento ocorreu em um contexto de crescente polarização política no Brasil, onde a confiança nas instituições eleitorais tem sido frequentemente questionada. O TRE-SP, ao decidir pela cassação, enfatizou que a prática de desinformação não apenas compromete a integridade das eleições, mas também atenta contra a democracia.
O relator do caso, Encinas Manfré, destacou que Zambelli abusou de seu poder político ao compartilhar conteúdos que, segundo ele, tinham o potencial de manipular a percepção pública sobre a lisura do processo eleitoral. Durante o julgamento, foram apresentados vídeos e declarações da deputada que insinuavam irregularidades nas urnas eletrônicas, o que foi considerado uma tentativa de deslegitimar o resultado das eleições.
Essa decisão do TRE-SP não é um caso isolado, mas sim parte de um movimento mais amplo para combater a desinformação nas redes sociais e proteger a democracia. A corte já havia sinalizado anteriormente sua posição em relação a práticas que possam comprometer a igualdade de condições entre os candidatos durante as eleições.
Reação de Carla Zambelli
Após a decisão do TRE-SP, Carla Zambelli manifestou sua indignação e afirmou que recebeu o resultado com serenidade. Em suas declarações, a deputada classificou o julgamento como uma “tentativa de anular a voz dos 946.244 cidadãos paulistas” que votaram nela nas últimas eleições. Zambelli destacou que a decisão não teria efeitos imediatos, pois ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em suas redes sociais, a parlamentar expressou que continuará exercendo suas funções como deputada federal e que sua postura contra o governo atual permanecerá firme. Ela argumentou que a decisão do TRE-SP é um exemplo claro de perseguição política, especialmente contra figuras conservadoras, e que a liberdade de expressão está sendo ameaçada.
Além disso, Zambelli recebeu apoio de outros parlamentares do PL, que também criticaram a decisão do tribunal. O deputado Nikolas Ferreira, por exemplo, se manifestou nas redes sociais, afirmando que os votos dados a Zambelli poderiam ser “jogados no lixo” devido à sua condenação. Eduardo Bolsonaro, outro aliado, reforçou que a decisão apenas intensifica a polarização política no país.
A defesa de Zambelli argumentou que suas postagens estavam dentro dos limites da liberdade de expressão e que não houve ato ilícito em suas condutas. Eles sustentaram que as publicações eram compartilhamentos de conteúdos de outros veículos e que não eram falsas ou enganosas.
Implicações da Cassação do Mandato
A cassação do mandato de Carla Zambelli pelo TRE-SP traz diversas implicações, tanto para a deputada quanto para o cenário político brasileiro.
Em primeiro lugar, a decisão implica na inelegibilidade de Zambelli por um período de oito anos, o que significa que ela não poderá concorrer a cargos eletivos durante esse tempo. Essa medida é uma tentativa de coibir práticas de desinformação e abuso de poder político, enviando uma mensagem clara sobre a importância da integridade nas eleições.
Além disso, a decisão pode influenciar outros políticos e candidatos a serem mais cautelosos em suas comunicações, especialmente nas redes sociais, onde a disseminação de informações falsas pode ter um impacto significativo na opinião pública. A ação do TRE-SP pode ser vista como um alerta para que todos os envolvidos na política respeitem as normas eleitorais e a veracidade das informações que compartilham.
Outro aspecto importante é o efeito que essa cassação pode ter sobre a base de apoio de Zambelli. Como uma figura proeminente do bolsonarismo, sua condenação pode gerar descontentamento entre seus apoiadores e, ao mesmo tempo, pode ser usada por adversários políticos como um exemplo de responsabilidade e prestação de contas. Isso pode alterar a dinâmica de apoio dentro do partido e entre os eleitores.
Por fim, a possibilidade de recurso ao TSE significa que a batalha legal ainda não terminou. A decisão final do TSE poderá ter um impacto significativo não apenas na carreira de Zambelli, mas também na forma como as cortes eleitorais lidam com casos semelhantes no futuro, moldando o panorama da política brasileira em relação à desinformação e à liberdade de expressão.
Análise da Liberdade de Expressão em Campanhas
A análise da liberdade de expressão em campanhas eleitorais é um tema complexo e frequentemente debatido, especialmente à luz da decisão do TRE-SP que cassou o mandato de Carla Zambelli. A liberdade de expressão é um direito fundamental garantido pela Constituição brasileira, mas sua aplicação em contextos eleitorais levanta questões sobre os limites do que pode ser dito e compartilhado.
No caso de Zambelli, a corte considerou que suas declarações e postagens nas redes sociais ultrapassaram os limites aceitáveis da liberdade de expressão, caracterizando-se como desinformação que poderia comprometer a integridade do processo eleitoral. Essa decisão sugere que, embora a liberdade de expressão seja um direito protegido, ela não é absoluta e pode ser restringida quando se trata de proteger a democracia e a veracidade das informações durante as eleições.
Os críticos da decisão argumentam que a cassação do mandato de Zambelli pode criar um precedente perigoso, onde a liberdade de expressão de políticos e cidadãos pode ser cerceada sob o pretexto de combater a desinformação. Eles afirmam que é essencial permitir que as vozes divergentes sejam ouvidas, mesmo que suas opiniões sejam controversas ou impopulares.
Por outro lado, defensores da decisão do TRE-SP sustentam que a desinformação tem o potencial de desestabilizar a confiança pública nas instituições democráticas e que é responsabilidade dos tribunais agir para proteger a integridade do processo eleitoral. A linha entre liberdade de expressão e desinformação é, portanto, um campo de batalha contínuo, onde o equilíbrio entre permitir a livre troca de ideias e proteger a democracia deve ser cuidadosamente considerado.
Em suma, a questão da liberdade de expressão em campanhas eleitorais é multifacetada e requer um diálogo aberto sobre como garantir que todos os cidadãos possam expressar suas opiniões sem comprometer a integridade do sistema democrático.
